por Eder Ferreira
Quem é Deus?
Essa, com certeza é a mãe de todas as perguntas. A indagação mais simples, mas,
também a mais complexa. Nada mais parece tão óbvio para alguém que conhece ou
se interessa por ciência que se perguntar, ao menos uma vez em sua vida que ser
é esse que controla o mundo, que nos faz parecer mais certos de nós mesmos, que
nos alivia e nos enche de esperanças, mesmo nos momentos difíceis. Que nos
mostra verdades incorrigíveis, frente a um mundo de incertezas e dúvidas, e que
se mostra, cada vez mais uma incógnita indissolúvel. É certo que, para aquele
que se diz fervorosamente religioso, a imagem de Deus se parece intocável,
intangível ao nosso conhecimento. E não se pode questionar essa idéia. Nenhuma
religião existe com o propósito de explicar a existência de Deus, e sim para
cultuá-lo, e elevá-lo ao máximo perante sua criação. Então, para que a ciência
deve se por a frente de um possível estudo analítico sobre esse ser sem
precedentes? Cabe à ciência estudar a origem, a existência e as particularidades
de Deus? Mesmo Ele não sendo um objeto de estudo de forma direta, a ciência o
investiga a muito tempo, e de muitas maneiras. A própria tentativa humana de
explicar o mundo através das diferentes ramificações da ciência, desde a física
até a psicologia, se mostra extremamente ligada a idéia de se explicar algo
maior, muito além de nossos olhos. Como exemplo dessa busca camuflada por uma
explicação contundente sobre Deus, a astronomia se mostra a mais interessada em
desvendar os mistérios do criador. Todas as teorias sobre a origem e evolução
do universo se aproximam da busca por respostas sobre Deus. Cada religião tem
sua própria forma de explicar o início de tudo, e essa visão religiosa, de
certa forma, foi o pilar para uma cegueira ideológica que se abateu sobre o
mundo por séculos. Enquanto a ciência ainda não tinha bases sólidas ou mentes
capazes de explicar o universo, cada crença desenvolveu sua própria imagem de
como tudo teria começado. Foi assim que os primeiros povos fundaram as bases
das religiões, dando origem a uma nuvem de inverdades que não permitiam ao ser
humano uma indagação mais exata sobre a origem do universo. Isso se reflete nas
idéias de pensadores, como Epicuro (341 a.c.-270 a.c.), Aristóteles (384 a.c.-321 a.c.) e Ptolomeu (90
d.c.-168 d.c.), que defendiam o modelo Geocêntrico. Essa teoria, de que a Terra
ficava imóvel, no centro do universo, e que o Sol girava ao seu redor (O que,
conseqüentemente, colocava o ser humano no centro de tudo,como a criação
perfeita de Deus), se mostrou tão forte que o cristianismo, ao se solidificar
como religião, a adotou como verdade e doutrina, posicionando todo o mundo
cristão a acreditar, de forma veemente, no modelo Geocêntrico. Porém, não é
correto condenar esses filósofos por suas posturas errôneas sobre a posição da
Terra em relação ao Sol. Através de suas obras, contribuíram, e muito, para a
evolução do conhecimento filosófico e científico, principalmente Aristóteles,
que se devotou a explicar o mundo através de suas idéias. Apesar de não utilizar
um método científico de experimentação para chegar a suas conclusões,
Aristóteles se mostrou um amante do conhecimento científico, refletindo sobre
as mais árduas indagações de seu tempo. Mas, ao invés de seu pensamento, mesmo
errado, servir de inspiração para que o mundo começasse, enfim, a buscar
respostas para as grandes dúvidas existentes, passou a ser a raiz de um levante
ideológico criado pela igreja católica, de que Deus, ao criar sua mais perfeita
obra, o ser humano, teria colocado-a no centro do universo. Assim, o
geocentrismo passou a ser não uma teoria de Aristóteles e Ptolomeu, mas uma
certeza inquestionável, defendida pelo catolicismo.
Dessa forma, a
ciência ficou abatida, sem ter como se mostrar ativa para o mundo. Não bastasse
a idéia da Terra ser o centro do universo, a igreja católica mostrou toda a sua
força no combate a quaisquer teorias que viessem contestar seus dogmas. Até que,
em 1543, um polonês chamado Nicolau Copérnico (1473-1543) resolveu dar vida
nova a ciência. De forma corajosa e audaciosa, Copérnico enfrentou todo o
conhecimento de sua época para negar o geocentrimo, afirmando que a Terra não
ficava imóvel, com o Sol girando ao seu redor, mas sim o Sol ficava imóvel, com
a Terra girando ao seu redor. A ciência ressuscitada, emergia das cinzas para,
novamente, tentar entender o universo, e, de forma indireta, entender Deus. A
descoberta de Copérnico mostrou um novo rumo para o conhecimento, fazendo com
que outros pensadores, como Giordano Bruno (1548-1600) e Galileu Galilei
(1564-1642) lançassem suas teorias sobre o universo. Apesar de ter se
aventurado apenas na filosofia, e de não ser reconhecido como um cientista, o
italiano Giordano Bruno tem em suas idéias filosóficas uma relação íntima com o
cientificismo. Se Copérnico afirmava que era a Terra que girava ao redor do
Sol, e não o contrário, Bruno foi além. Em sua obra “Acerca do Infinito, do
Universo e dos Mundos”, de 1584, ele afirmava que o universo não tinha fim, e
que estaria cheio de astros como o Sol, com planetas girando ao redor desses astros. Afirmava, ainda que
esses planetas seriam habitados por seres inteligentes, e que o universo não
teria sido, simplesmente, criado por Deus; O universo seria, todo ele, Deus.
Sendo assim, nós, humanos, considerados pela igreja católica como filhos de
Deus seriamos, segundo Bruno, parte do “corpo” de Deus. Evidentemente essas
idéias não foram nem um pouco aceitas pela igreja, que, em 1600, por intermédio
da inquisição católica, executou o filósofo como herege. Galileu parecia ter o
mesmo destino de Bruno: A fogueira. Tudo graças a sua defesa ao modelo
heliocêntrico. Porém, sua perspicácia não o deixou morrer. Quando acusado de
heresia pela inquisição, Galileu negou sua teorias, escapando, assim, de ser
queimado. Se ele foi covarde ou não, isso não importa. Suas idéias e suas
contribuições para a ciência o tornaram um ícone, uma verdadeira referência
para muitos que, como ele, se aventurariam neste mundo de descobertas
fantásticas. Graças a ele, uma nova ciência surgia, pronta para desvendar os
mistérios do mundo, e, assim, desvendar a origem e a existência de Deus.
Pode-se, a
primeira vista, parecer um pouco vago a idéia de que as ciências astronômicas
tem, como meta, mesmo que indireta, uma explicação razoável sobre Deus e seus
mistérios. Mas, a medida que o conhecimento científico evoluiu, foi se
desenhando uma incansável tentativa de se explicar a natureza de forma mais complexa,
não apenas se restringindo a entender, de forma superficial as leis que regem o
mundo. O físico inglês Isaac Newton (1642-1727) foi quem começou a demonstrar,
através de suas teorias, que a ciência deveria ir mais fundo em seus estudos.
Apenas conhecer e teorizar sobre o universo não era o bastante. Seria
necessário uma explicação mais exata sobre os fenômenos naturais. Unindo
cálculos matemático com toda a teoria científica sobre a matéria conhecida em
sua época, Newton criou uma ciência mais experimental, onde era preciso mais do
que simples idéias para se chegar a verdade. Não que a ciência teórica
estivesse com seus dias contados. Muito pelo contrario. O que Newton fez foi
apenas desenvolver um método mais baseado em dados concretos, diferente de René
Descartes (1596-1650) que, pouco antes propôs uma metodologia mais filosófica
para que a ciência chegasse as suas conclusões. A ciência teórica, é, até hoje,
uma das áreas do conhecimento que mais colaboram para o avanço científico, e é
através dela que muitos cientistas teóricos questionam a origem e a existência
de Deus. E, é dessa ciência teórica que muitas descobertas e teorias surgiram,
primeiro como observações minuciosas de fenômenos naturais, depois, com idéias
e comprovações práticas, que visaram fortalecer essas teorias, mesmo que seus
detratores as tachassem de mentirosas ou errôneas. (...)
Esse é apenas
um trecho do ensaio "O Deus da Ciência". Para lê-lo na integra clique aqui